terça-feira, 29 de novembro de 2011

Certeiro. Como sempre.

Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.

MEC

domingo, 27 de novembro de 2011

Flashback

Acabei de ser pedida em namoro. Tenho 31 anos. Desde os 15 que eles se deixaram disso. Os pedidos seguiam numa folha de papel no correio de S. Valentim. Este último acompanhou as novas tecnologias e foi-me enviado pelo chat do Facebook. Coisas do antigamente nos tempos modernos...


domingo, 6 de novembro de 2011

domingo, 23 de outubro de 2011

Gosto disto!

Tenho um leitor (ou leitora) que vive na Califórnia. Quem o diz é o sitemeter. Se fico feliz? Fico, sim. É bom saber que o meu blogue pode ser interessante até na terra do surf e dos Beach Boys!


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sobre as novas definições de privacidade do FB

It's a social network!!! Se não queres que as pessoas saibam coisas sobre a tua vida privada, não publiques! Simples, não?


terça-feira, 11 de outubro de 2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Hoje estou assim...


O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela diz. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Liberta-me."Não quer sair comigo?! Então, foda-se!" "Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! Então, foda-se!"O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição. Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia."Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade que "comó caralho"? "Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática. A Via Láctea tem estrelas comó caralho, o Sol é quente comó caralho, o universo é antigo comó caralho, eu gosto de cerveja comó caralho, entendes? No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!". Nem o "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem. O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto. Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de maior interesse na tua vida. Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir surfar na praia? Não percas tempo nem  paciência. Solta logo um definitivo "Jorginho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!". O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...) Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou seu correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito assim, põe-te outra vez nos eixos. Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça. E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"? Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai levar no olho do teu cu!"? Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima. Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios. E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar:"Fodeu-se!". E a sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!".Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando estás a conduzir bêbedo, sem documentos do carro, sem carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!" Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se!

E no fim disto ainda dá para rir à gragalhada, ah foda-se!

Recebido por email, sem a fonte. Hoje estou assim fod@-se!

Confissões # 25

Estou demasiado preguiçosa para escrever. Ou talvez só esteja imersa em demasiadas emoções.

domingo, 18 de setembro de 2011

Simple as that


Imagem daqui.

7 meses

Já lá vai uma semana. No dia 11 fez 7 meses que apontei as agulhas a Norte e vim para Londres. Resumo do último mês:

  • Convulsões sociais vividas: 1
  • Avistamento de carros estacionados em cima do passeio: 0
  • Avistamento de arrumadores de carros: 0
  • Presenciamento de detenções na via pública: 1
  • Mudanças de casa: 1
  • Mudanças de telemóvel: 1
  • Idas ao médico: 4 - com direito a uma ida às urgências do hospital
  • Embriaguez: 3 e meia. Na verdade, já começo a perder a noção de quantas foram...
  • Discussões em inglês: 2
  • Avarias no computador: 1
  • Romances: 1 e meio (sim, em Londres tudo é possível)
  • Novas amizades: uma mão cheia
  • Idas a Portugal: 3
  • Lágrimas de saudade: muitíssimas 
  • Visitas de amigos portugueses: 3
  • Visitas de familiares: 1
  • Flatmates até ao momento: 2
  • Número de cigarros diários: pelo menos 10
  • Nacionalidades com as quais já travei conhecimento: incontáveis
  • Petisco de caracóis: 1
  • Noites de Fado: 2
  • Mudanças de trabalho: 1
Neste último mês, muita coisa aconteceu. As duas últimas semanas foram um bocadinho mais calmas, o que deu para equilibrar as emoções. Waiting for the next episodes!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O voo perdido ou Gatwick nunca mais

Já fui e já voltei. O tempo não foi um grande amigo e o melhor dia foi mesmo ontem, sendo que eu tinha de regressar. Mas foi bom, mesmo sem praia e banhos de sol e de mar.

Agora, aventura, aventura, foi na Quinta-feira! Lá ia eu a caminho de Gatwick, pronta para apanhar o avião para Faro e eis que alguém caiu/ atirou-se para a linha... A espera começou logo nos primeiros dois minutos da viagem. E estendeu-se por mais 2h43 minutos! Parados no meio de nenhures, lá iamos sendo informados pelo maquinista do ponto da situação. Eu via as horas a passar e ao fim de 1 hora de espera já o meu voo estava perdido. O meu e o de muita gente! Quando finalmente parecia que iamos avançar, eis que temos de parar de novo, desta vez por mais tempo ainda. Alguns passageiros, cansados de esperar, acharam que era boa ideia seguir até Gatwick pela linha férrea. Conclusão: pára tudo outra vez, desliga a electricidade (já a ficar escuro), manda vir a polícia e aguenta mais um bocado. Quase 3 horas volvidas, chegamos finalmente ao destino. Segui para o balcão da linha aérea, esperei mais 2 horas, paguei £50 e marquei o voo para a manhã seguinte. Depois de feito o check-in e aviada a mala (valha-nos isso), seguiu-se a procura por um banquinho para dormir, qual vagabundo a vaguear pelo mundo! Dores nas costas, frio e uma noite de sono perdida foi o resultado desta pequena palhaçada...

Já vou na minha 3ª noite dormida em aeroportos londrinos. Entre Gatwick, Luton ou Heathrow, o primeiro é o que tem cadeiras mais confortáveis. Mais informações sobre condições de dormida nos respectivos locais, é só pedir informação! Já sou uma expert!!!

E pensar que não fui pela TAP porque teria de fazer escala em Lisboa e iria perder muito tempo... Gatwick, se deus quiser (e a carteira também) nunca mais!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Allgarve

Ou será "All Garve"? Seja como for, prefiro "Algarve". E Verão que é Verão, pede sempre um saltinho até ao sul de Portugal. Este ano não será excepção. Aqui vou eu rumo às praias (se o S. Pedro deixar), marisco, muxama, primos, tios, esplanadas e muitas outras coisas boas!

See you Monday!



Praia Verde, Algarve, Outubro 2010
Autoria: Matryoshka

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Confissões # 24

Enquanto escrevia o post anterior, percebi que a balança desta relação pende bastante mais para aquilo que me entristece do que para aquilo que me alegra. Perguntei-me, inevitavelmente: "o que fazes tu aqui?"

O dilema

Confessei aqui que estava num dilema. Poucos dias mais tarde, sugeri apostas. Esse, na verdade, era apenas um meio-dilema que a vida resolveu (pelo menos aparentemente) por si só. Quanto ao primeiro, mantém-se. Depois da certeza de um "sim", veio a incerteza. Seguiu-se um "não" pouco convicente. Acertadas mais umas agulhas, vem o "sim" outra vez. É como se tivesse duas vozes dentro de mim, uma incentivando-me a arriscar, dizendo que não será fácil mas que nunca terei conviver com um "se...". A outra, racional, lógica, grita-me que não. Que não faz sentido, que me votarei a uma tristeza da qual não preciso para aprender novas lições.

Para me fazer entender, teria de explicar que ele me propôs mudar-me para casa dele. Teria também de explicar que não se trata de um "vamos juntar as escovas de dentes", mas antes de um "confio em ti para olhares pelas minhas coisas enquanto eu não estiver por cá". Teria de dizer que esta não é a relação ideal. É uma relação cheia de defeitos, falhas, por vezes, de suspeitas. Mas teria também de confessar o quanto me sinto em paz em alguns momentos. O quanto adoro a intimidade que fomos criando ao longo de um caminho com alguns tropeções: os nossos pés a mimarem-se debaixo do cobertor, as cócegas logo pela manhã, as palavras em português no meio de frases ditas em inglês. 

Todas as pessoas com quem partilhei este dilema, me aconselharam com as perguntas "E quando ele não estiver lá?", "E quando ele voltar, como será?", "É, sem dúvida, uma situação muito vantajosa para ele. Qual é a vantagem para ti?". Também eu questiono o mesmo. Conseguirei viver o dia-a-dia, sabendo-o tão longe, mas tão perto da vida dele? E o retorno, como será? Mais ainda, porque tenho eu este dilema? Num mundo perfeito, ele nem existiria.

Dos anos de vida que levo, ainda tenho tudo para aprender. No entanto, há uma certeza que trago comigo: os únicos arrependimentos que guardo, são aqueles em que deixei a dúvida reinar. E apesar de acreditar religiosamente  que cada pessoa tem a si a resposta certa, não consigo ignorar o que os outros me dizem. 

Pedi um tempo para pensar. Fui honesta:  esta é mais do que uma mudança logística. O meu coração está envolvido e que eu não quero magoá-lo em vão. A resposta vai aparecer.


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Confissões # 23

Este foi o fim-de-semana emocionalmente mais turbulento desde que estou em Londres. E aguardam-se desenvolvimentos. 

terça-feira, 16 de agosto de 2011

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Meio ano

Já levo meio ano de vida em Londres. E apesar das saudades de casa, do clima maravilhoso de Portugal, da paparoca como só nós sabemos cozinhar e da aparente insegurança vivida recentemente, faria tudo de novo. Em tópicos:

  • Convulsões sociais vividas: 1
  • Avistamento de carros estacionados em cima do passeio: 0
  • Avistamento de arrumadores de carros: 0
  • Presenciamento de detenções na via pública: 1
  • Mudanças de casa: 1
  • Mudanças de telemóvel: 1
  • Idas ao médico: 4 - com direito a uma ida às urgências do hospital
  • Embriaguez: 3 e meia (a meia foi ontem à noite)
  • Discussões em inglês: 2
  • Avarias no computador: 1
  • Romances: 1
  • Novas amizades: uma mão cheia
  • Idas a Portugal: 2
  • Lágrimas de saudade: muitíssimas 
  • Visitas de amigos portugueses: 2
  • Visitas de familiares: 1
  • Flatmates até ao momento: 2
  • Número de cigarros diários: pelo menos 10
  • Nacionalidades com as quais já travei conhecimento: incontáveis
  • Petisco de caracóis: 1
  • Noites de Fado: 2

Continuo a sentir que todas as possibilidades estão em aberto e que ainda há muito por fazer e por viver. E só por isso, vale a pena estar aqui!

Confissões # 22

Não sei se a dor de cabeça que tenho desde manhã foi do vinho chileno de ontem ou do dilema em que me encontro.

Para terminar este assunto

Faço minhas estas palavras

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Imagine

6:30 da tarde. Oxford Street muito vazia. Muitas lojas fechadas, algumas com anúncios nas montras avisando que não há stock no interior. Estação de metro de Oxford Circus. A habitual confusão dá lugar a espaços vazios. A caminho da plataforma, no local destinado a músicos amadores, um homem toca e canta «Imagine» de John Lennon. Não poderia ser mais apropriado e mais triste. A cara de Londres é, indiscutivelmente, outra.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

London riots

As imagens são assustadoras. São vários os email, mensagens e telefonemas que tenho recebido de casa a perguntar se se sente o que se passa por aqui nos últimos dias. Não vi sinais de violência alguma e tirando o forte dispositivo policial em Oxford Street esta tarde, nem diria que a cidade está a ferro e fogo! Mas não deixa de ser preocupante. A violência alastra a cada noite e pelo sim, pelo não, vale mais ficar sossegada em casa! Se por um lado o que sinto é tristeza, por outro sinto apreensão. Não querendo e não gostando de ser alarmista, este tipo de brutalidade, sobretudo quando é gratuita (que é o caso), não me é indiferente e quando olho para o mapa das zonas onde têm ocorrido os distúrbios, vejo a zona onde moro lá no meio... O mesmo não acontece com alguns amigos, literalmente, enclausurados em casa!

Não consigo deixar de me perguntar como se passa de uma vigília silenciosa a esta barbárie. Não há dúvida de que ainda somos muito primitivos... As imagens falam por si.




domingo, 7 de agosto de 2011

Back 2 London

E no dia do regresso a Londres, chego com esta triste notícia. Também eu vivo no norte de Londres e não gostaria de ver repetido este episódio nos próximos dias. Para lágrimas, já me bastam as que chorei na descolagem do avião. 

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

31

E com eles, arranjei um grande 31!



Parabéns a mim que celebro hoje 31 Verões :)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Até amanhã Lisboa!

Sol, praia, mar, um gelado, sangria, sardinhas assadas, caracóis e salada de polvo, o Chiado, a Graça e a Senhora do Monte, Pastéis de Belém, Fado, o Bairro Alto, o céu azul inigualável, o Tejo, a Baixa e o Rossio, a calçada portuguesa, abraços e beijos, sorrisos e gargalhadas, um copo de vinho, uma bica, uma esplanada (ou várias), o Castelo, o eléctrico 28, a Praça das Flores, os telhados inconfundíveis, o calor do Verão e das gentes. Tudo isto e muito mais. Até amanhã Lisboa!


segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ja nao tenho idade...

Este fim-de-semana estraguei-me. E estraguei-me a seria! Se foi divertido? Muito. Se me sinto em forma? Nem pensar! Assim concluo que, a uma semana do meu 31 aniversario, ja nao tenho idade para esta vida. Ele e cansaco, dores no corpo, sono fora-de-horas e, na cabeca, a frase que nao me larga: "Terei falado demasiado?" Cansada como estou, tenho para mim que uma boa noite de sono dissipara as duvidas e restituir-me-a a boa forma. Na certa, ja nao tenho idade para isto...

*Nao fiquei preguicosa de repente... Estou mesmo num teclado sem acentos, nem cedilhas.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

E para jantar...

Um bacalhau no forno que, modéstia à parte, estava divinal!*


*Sim, cozinhado por mim :)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O meu fado

Quando fazemos uma mudança drástica nas nossas vidas, como mudar de país, ponderamos os prós e os contras vezes sem conta. Não é nunca de ânimo leve (creio eu) que se decide virar tudo do avesso e começar de novo. E muitas das dúvidas que tinha antes de vir para Londres ainda me assombram. Não penso nisso a toda a hora mas de tempos a tempos (leia-se, pelo menos uma vez por semana), sou assaltada por algumas interrogações. E se habitualmente as tomo como parte do processo de adaptação, é geralmente em conversas banais que nos apercebemos do quão estranhas podem ser as nossas opções. 

Desde há muitos anos que pensava em vir para Londres. Por uma razão ou outra, por falta de coragem ou, simplesmente, porque a vida ia acontecendo e nunca parecia ser a altura certa, fui adiando a vinda. Mas acho que sempre soube que viria. Quando decidi finalmente arriscar, pesei uma série de coisas que já tinha e das quais iria abdicar para embarcar nesta mudança. E mesmo assim arrisquei. Penso algumas vezes nessas coisas: em Portugal vivia sozinha numa boa casa (apesar de não ser nas condições ideais); em Portugal tinha carro (apesar de não ser nas condições ideais); em Portugal tenho a maioria da minha família e amigos. Em Londres, divido um apartamento e o meu quarto é pouco maior que uma das casas-de-banho que tinha em Lisboa; em Londres ando de transportes, entre milhares de pessoas e sujeito-me aos horários do metro, autocarro, etc.; em Londres fiz alguns amigos mas não consigo evitar a saudade imensa e o vazio de não ter quem mais amo por perto.

Entretanto, a A., amiga de longa data veio a Londres por uns dias. Passámos o fim-de-semana juntas e não consigo esquecer o que senti no momento em que a vi. Falamos com muita frequência, seja via Skype ou por telefone, mas vê-la à minha frente foi uma lufada de ar fresco! Acho que nos revemos sempre nos outros e vê-la foi como ver-me fora desta rotina. No Domingo, em conversa banal, falávamos do que faríamos se ganhássemos o Euromilhões. E foi aqui que me surpreendi a mim própria. Nas minhas palavras:

«Se ganhasse o Euromilhões, comprava uma casa em Lisboa mas não me ia embora daqui.»

Ela, naturalmente, olhou-me com espanto. E eu espantei-me com o que disse. Que raio de coisa me prenderá a esta cidade? Tenho menos, muito menos do que tinha em Portugal. Estou longe de tudo o que é confortável, familiar e que adoro. Tenho muitos momentos de melancolia e saudade e outros tantos de solidão. Por que motivo insisto e sinto que, pelo menos para já (e sem data de regresso marcada), é aqui que vou ficar? Apenas duas explicações me ocorrem: ou adoro a sensação de desafio pessoal ou há qualquer coisa que tenho de fazer aqui e ainda não sei o que é. Se acredito em karma ou destino? Até certo ponto, mas quando de forma racional e lógica não encontro explicação para esta escolha, pondero se não será mesmo o destino a cumprir-se. Só o tempo o dirá. 

5 Meses

Olho para o calendário e penso «o dia 11 diz-me qualquer coisa...». E a meio da manhã lá me lembro: faz hoje 5 meses que cheguei a Londres. Vamos a factos:


  • Avistamento de carros estacionados em cima do passeio: 0
  • Avistamento de arrumadores de carros: 0
  • Presenciamento de detenções na via pública: 1
  • Mudanças de casa: 1
  • Mudanças de telemóvel: 1
  • Idas ao médico: 4 - com direito a uma ida às urgências do hospital
  • Embriaguez: 2
  • Discussões em inglês: 2
  • Avarias no computador: 1
  • Romances: 1
  • Novas amizades: uma mão cheia
  • Idas a Portugal: 1
  • Lágrimas de saudade: muitíssimas 
  • Visitas de amigos portugueses: 2
  • Visitas de familiares: 1
  • Flatmates até ao momento: 2
  • Número de cigarros diários: pelo menos 10
  • Nacionalidades com as quais já travei conhecimento: incontáveis
  • Petisco de caracóis: 1
  • Noites de Fado: 2

E de mês para mês vou acrescentando mais uma ou outra coisa, embora no último não tenha acontecido nada  que mereça grande destaque... Coisas por fazer ainda? Milhares! Mas de momento estou concentrada na busca do meu Santo Graal. Essas coisas acontecerão quando lá chegar.*

*Bem sei que isto não diz rigorosamente nada mas quando lá chegar, direi.

domingo, 3 de julho de 2011

A franja

A dúvida persistia há alguns meses. O que fazer com a franja que me acompanha há vários anos? Cortá-la de novo? Deixá-la crescer? Andava um bocadinho farta de tê-la sempre igual e de estar constantemente a esforçar-me para tirá-la da frente dos olhos. Ontem, num acesso de loucura/estupidez, olho-me ao espelho e, de tesoura em punho, toca a cortá-la como se não houvesse amanhã! O problema é que o amanhã está já ao virar da esquina e o resultado não foi feliz. Saio a correr para a rua à procura do primeiro cabeleiro que me arranjasse o estrago e por £3 lá deram um "jeitinho" ao meu magnífico corte: franja a direito!

À noite, ao chegar junto de uma amiga, ela olha para mim e diz: Nelly Furtado! Lembrei-me que já me tinham dito o mesmo há tempos. Fico feliz com a comparação. Não tenho aquele bronze invejável (sobretudo este ano) e não sei cantar mas, pelo menos, sei dizer a palavra «força» de forma respeitável!


segunda-feira, 27 de junho de 2011

Saudade

Mar Impossível

Na neve mais pura escrevo
As saudades do meu mar:
Tenho saudades da areia
Branca de neve ao luar.

Tenho saudades do vento
Que sopra breve, indeciso,
Leve como um pensamento
Do céu azul, calmo e liso.

Tenho saudades das ondas,
Das conchas e das sereias.
Aqui as ondas são poucas
E vivem paredes meias

No coração com a saudade
De não ver o mar sem fim.
(Quando não posso cantar
Tenho saudades de mim.)

Camané

Foto: Matryoshka, Ericeira, Fevereiro 2011

terça-feira, 21 de junho de 2011

É Verão!

E eu continuo a usar botas. E estou branca que nem uma lula. E uso lenços à volta do pescoço. E casacos. E esta é a pior parte de Londres!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Keep it simple

Em casa, doente e de estômago revirado. Saída mais logo ao fim do dia e nem o entusiasmo que deveria ter, tem. A cabeça está a mil e nem uma sesta vai ajudar a parar o frenesim da mente. A ansiedade é isto. Pergunto-me, vezes sem conta, até que ponto vai a minha honestidade. Poderei fazer o que não faria nunca, só porque me sinto lixada? Relembro-me vezes sem conta de que tudo é mais fácil quando mantemos as coisas simples. A perspectiva é mais clara, o que não significa que seja mais simpática. E então, volto a complicar. A deslindar todas as palavras, gestos, conversas, só para ter a certeza de que tenho razão e assim alimentar o lado mais autodestrutivo do meu ego. E ele sorri, insuflado e feliz com tanta dúvida, só para se certificar de que as contas que faz são as certas. E enquanto isso, eu ando atordoada. No pensamento vai a convicção de que não queria mais este teste. Reminder para hoje e sempre:

Keep it simple!*

*And honest. Ever.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

4 meses

Em Londres, feitos no Sábado. E a cidade continua a marcar pontos! Vamos a números:

  • Avistamento de carros estacionados em cima do passeio: 0
  • Presenciamento de detenções na via pública: 1
  • Mudanças de casa: 1
  • Mudanças de telemóvel: 1
  • Idas ao médico: 3
  • Embriaguez: 2
  • Discussões em inglês: 2
  • Avarias no computador: 1
  • Romances: 1
  • Novas amizades: uma mão cheia
  • Idas a Portugal: 1
  • Lágrimas de saudade: muitíssimas (nenhuma no último mês)
  • Visitas de amigos portugueses: 1
  • Visitas de familiares: 1
  • Flatmates até ao momento: 2
  • Número de cigarros diários: inferior a 10
  • Nacionalidades com as quais já travei conhecimento: incontáveis
  • Petisco de caracóis: 1
  • Noites de Fado: 2

Em resumo, no último mês não mudou muita coisa. Há coisas que se querem tal qual como estão. Desejos para o próximo mês:

  • Mudança de emprego: 1

E há outras em que as mudanças são sempre bem-vindas!

13 de Junho

E a tradição mantém-se, mesmo à distância. O meu Santo António não me falha!


quinta-feira, 2 de junho de 2011

Piropo do dia

You are very linda!

E assim se arranca um sorriso a alguém. Não porque o piropo insuflou o meu ego mas porque uma construção frásica deste nível não se ouve todos os dias! 

domingo, 22 de maio de 2011

É uma tasca portuguesa, com certeza!

Ontem o jantar reuniu alguns compatriotas, uma francesa e um irlandês numa bela tasca portuguesa. Quando à tarde, a R. me enviou uma mensagem a dizer "Jantar numa tasca esta noite?" nem hesitei. Até das tascas sinto saudades! E lá fui eu. 

À chegada, pãozinho do bom, manteiguinha e azeitonas. A acompanhar, vinho Monte Velho. Seguiu-se o milho frito, típico da Madeira, e umas espetadas que me souberam pela vida! Em cima da mesa, o galheteiro, à boa maneira portuguesa. As paredes decoradas com motivos taurinos, um brinquinho (instrumento musical também típico da Madeira) e outras tantas bugigangas (quase de certeza que devem ter por lá loiça das Caldas). Na televisão, a Sport TV a transmitir jogos da liga espanhola. E a rematar a refeição, tivémos direito a poncha feita pela D. Fátima. Na hora de pagar, £10 a cada um!

Não sei se me senti mais na Madeira ou mais no Ribatejo mas, seja como for, gostei e é para voltar. Esta é uma tasca portuguesa, com certeza!

Confissões # 19

Há coisas que jamais poderia dizer neste blogue. Seria chacinada, com toda a certeza!

Tanta coisa para dizer...

... E tão pouco tempo para o fazer. Quase não vejo televisão. Não faço ideia do que anda a passar pelas rádios. Não vou ao cinema há que tempos. As vindas à internet são curtas e espaçadas. E mesmo assim, parece que todas as horas do dia não são suficientes. Não é porque tenho milhões de coisas que não consigo fazer. Não é porque trabalho horas infindáveis que me consomem o tempo e a alma. É porque estou muito into me. Porque tenho passado o meu tempo a descobrir e a fazer aquilo de que gosto, aquilo que me dá prazer. Tenho lido mais, passeado mais, conhecido mais, sejam pessoas, lugares ou emoções. Acho que era mais ou menos isto que eu queria dizer aqui. É um never ending de revelações. Se quase sempre preferi o conforto do que conhecia, agora adoro a sensação de que tenho todas as possibilidades pela frente. Acho que a liberdade é isto. É desafiarmo-nos, atrevermo-nos, abraçar a mudança. É inspirarmo-nos com o que é diferente e sentir alegria por isso. E se algumas vezes dói, a recompensa é um deleite desmedido.


 Imagem daqui.

domingo, 15 de maio de 2011

3 meses

3 meses em Londres, feitos na última Quarta-feira. A tradução desta experiência, em números (sem qualquer ordem de importância, cronológica ou outra):

  • Avistamento de carros estacionados em cima do passeio: 0
  • Presenciamento de detenções na via pública: 1
  • Mudanças de casa: 1
  • Mudanças de telemóvel: 1
  • Idas ao médico: 1
  • Embriaguez: 1
  • Discussões em inglês: 2
  • Avarias no computador: 1
  • Romances: 1
  • Novas amizades: uma mão cheia
  • Idas a Portugal: 1
  • Lágrimas de saudade: muitíssimas
  • Visitas de amigos portugueses: 1
  • Flatmates até ao momento: 2
  • Número de cigarros diários: inferior a 10

Como é natural, não há forma possível de os números expresarem aquilo que tenho vivido. Certezas, apenas duas: a decisão de vir para Londres foi a mais acertada e a parte mais difícil já ficou para trás!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Casório real #3

Amei o vestido da Catarina Isabel!


Casório real #2

A cidade está toda «vestida» a preceito para a boda. É bandeirinhas por todo o lado, inclusivamente nos supermercados. Encontrei guardanapos com a bandeira britânica estampada em jeito de comemoração do grande acontecimento. Dada a dificuldade em encontrá-los no dia-a-dia, sou levada a acreditar que a malta aqui só limpa a boca em dias de festa...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Casório real #1

O William casa e temos feriado. A pergunta que se impõem é:

Para quando o casório do pequeno Harry?


...


Por isso é que adoro esta descoberta. Nunca ninguém me falou de ti.

Imagem daqui.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

NHS

Hoje tive a minha primeira experiência com o sistema de saúde britânico. Correu bem. Confesso que há alguns anos que não recorro ao português mas creio que as diferenças devem ser algumas. Ora vejamos:

  • Envio de sms ontem a relembrar a consulta de hoje.
  • Tempo de espera entre a hora marcada e a hora em que entrei para o gabinete médico: 15 minutos.
  • Consulta rápida e focada apenas nos aspectos importantes (apesar de ter uma aprendiz a observar tudo muito atentamente).
  • Total imparcialidade: tal como os próprios anunciam, ali não há espaço para julgamentos (ainda que por um momento ou outro eu me tenha sentido embaraçada).
  • Medicação tomada in loco.
  • Análises: colheitas feitas na hora.
  • Brindes: alguns.
  • Custo: £0!

Mais uns pormenores que me parecem muito pertinentes (embora completamente estranhos à realidade portuguesa), e foi o suficiente para ter a certeza de que me encontro no primeiro mundo. E são este tipo de coisas que me fazem gostar cada vez mais deste país!

Dentro de duas semanas, receberei o resultado das análises por sms. Muito à frente, não?

Irritante!

Quando será que vão parar com a votação para casórios no FB? É que não se cansam! O meu feed de notícias mas parece um peditório para Santo António. «Votem nestes que eu conheço», «Malta, são meus amigos», «Vá lá, realizem o meu sonho». É que já não há saco... Podem parar com isso, se faz favor? 

E já agora, um recadinho aos senhores das Páginas Amarelas: dediquem-se a fazer aquilo que sabem fazer melhor, ou seja, folhas para enrolar as castanhas!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Home sweet home!

Após dois meses (a estadia mais longa longe de casa, desde sempre), regressei por uns dias a Lisboa. Foram poucos e mal deu para matar as saudades e deliciar-me com tudo aquilo que me apetecia. Os caracóis à beira-mar ficam para outras núpcias e uma sangria na esplanada da Graça também. Ainda assim, foi muito bom poder abraçar tantas pessoas que adoro! 

Confesso que a chegada foi a parte mais emotiva. Quando no avião informaram que iríamos iniciar a descida para Lisboa, desatei num pranto e pensei que não fosse ser capaz de parar. Enquanto olhava pela janela e via Lisboa lá em baixo, dei-me conta do quanto adoro esta cidade e este país. Mesmo estando afundado numa crise sem precedentes e mergulhado numa depressão colectiva, a sensação de pertença é demasiado forte. Já o tenho dito muitas vezes: um dia vou voltar!

No espaço de apenas 3 dias, houve lugar a todo o tipo de acontecimentos e notícias. No Domingo à noite, entre amigos, recebemos a triste notícia de uma pessoa que partiu. Segunda-feira, logo pela manhã, recebi a maravilhosa novidade de que mais um sobrinho (ou sobrinha) vem a caminho!

Por agora, já me encontro em contagem decrescente para a próxima visita, com direito a caracóis, praia, sangria e sardinhas! Santos Populares me aguardem!


P.S. E enquanto andava por aqui à procura de fotos de Lisboa, dei-me conta da enormidade de saudades que já sinto... A minha cidade é a mai' linda do mundo!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

2 meses

Dois meses em Londres feitos hoje. O balanço do segundo mês é francamente melhor do que o do primeiro. Já tenho trabalho e algumas perspectivas de mudanças e boas novidades para breve. E que este último mês seja só um cheirinho do que ainda está para vir!

Imagem daqui.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Lost in translation

Literalmente. Eu até percebo inglês bastante bem e não tenho tido grandes dificuldades em perceber o que me dizem, sobretudo quando é por escrito. Logo agora, a trocar mensagens com um canadiano simpático, não percebi o que me quis dizer. Estranha escolha de palavras ou diferença cultural? 

quarta-feira, 30 de março de 2011

Hopes and fears

Depois de alguns dias em que a rotina foi outra, estou de regresso ao dia-a-dia. Sem as mesmas gargalhadas, jantares partilhados e noites de companhia. Sem a saudade permanente e com um bocadinho de Portugal aqui. Estão de volta os dias incertos, ansiosos. E todas as possibilidades estão em cima da mesa outra vez. 


Das despedidas

«Na hora da despedida, é quase sempre mais difícil ficar do que partir.»*



Quase sempre.

*in Equador, Miguel Sousa Tavares

sexta-feira, 25 de março de 2011

quinta-feira, 24 de março de 2011

Dramas de nacionalidade

Londres é uma cidade cheia de gente. Há pessoas de todo o lado e até agora são poucos os verdadeiros londoners que conheci. Pelas ruas, vou ouvindo falar português mas é sobretudo o português do Brasil. Ontem estive com várias pessoas que falavam português sendo que a única portuguesa era eu. Algumas constatações que me fizeram:

A. - Cê é portuguesa?
Eu - Sim, sou. De Lisboa.
A. - Ah, dá pra ver! Cê dá uns ares à Nelly Furtado!

Não sendo fã da luso-descendente, acho que é um bom elogio. A conversa que se seguiu foi a seguinte:

Eu - E é de patins?
R. - Dji quê?
Eu - Patins.
R. - Não entendi não.
Eu - Patins. Pa-tins!
R. - Ah, pátxins! «Pâtinss» ahahah. Seu sotaque é muito fofo!

O meu???

Hoje, uma senhora inglesa perguntou-me de onde sou. Respondi que sou de Portugal. Comentário:

- Eu diria que era italiana!

As minhas maçãs de rosto à Sophia Loren agradecem.

O comentário mais triste foi mesmo de um senhor já para o velhote que também quis saber de onde sou. Quando lhe disse, replicou com a seguinte pergunta:

- Em Portugal fala-se francês, não é?

Pois claro que sim! Francês, inglês, italiano, castelhano e tudo o quanto se queira aprender por lá. Também se aprende geografia e, por regra, sabemos mais ou menos que língua se fala em cada país!

terça-feira, 22 de março de 2011

Pobres dos nossos ricos

Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro» dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele. A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos “ricos”. Aquilo que têm, não detêm. Pior, aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados. 

Necessitariam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por os lançar a eles próprios na cadeia. Necessitariam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.

O maior sonho dos nossos novos-ricos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo, umas efémeras cintilâncias. Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas. O Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre chapas muito convexos e estradas muito côncavas. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade. 

As casas de luxo dos nossos falsos ricos são menos para serem habitadas do que para serem vistas. Fizeram-se para os olhos de quem passa. Mas ao exibirem-se, assim, cheias de folhos e chibantices, acabam atraindo alheias cobiças. O fausto das residências chama grades, vedações electrificadas e guardas privados. Mas por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam o receio das invejas e dos feitiços que essas invejas convocam.

Coitados dos novos ricos. São como a cerveja tirada à pressão. São feitos num instante mas a maior parte é só espuma. O que resta de verdadeiro é mais o copo que o conteúdo. Podiam criar gado ou vegetais. Mas não. Em vez disso, os nossos endinheirados feitos sob pressão criam amantes. Mas as amantes (e/ou os amantes) têm um grave inconveniente: necessitam ser sustentados com dispendiosos mimos. O maior inconveniente é ainda a ausência de garantia do produto. A amante de um pode ser, amanhã, amante de outro. O coração do criador de amantes não tem sossego: quem traiu sabe que pode ser traído. 

Os nossos endinheirados-às-pressas não se sentem bem na sua própria pele. Sonham em ser americanos, sul-africanos. Aspiram ser outros, distantes da sua origem, da sua condição. E lá estão eles imitando os outros, assimilando os tiques dos verdadeiros ricos de lugares verdadeiramente ricos. Mas os nossos candidatos a homens de negócios não são capazes de resolver o mais simples dos dilemas: podem comprar aparências, mas não podem comprar o respeito e o afecto dos outros. Esses outros que os vêem passear-se nos mal-explicados luxos. Esses outros que reconhecem neles uma tradução de uma mentira. A nossa elite endinheirada não é uma elite: é uma falsificação, uma imitação apressada. 

A luta de libertação nacional guiou-se por um princípio moral: não se pretendia substituir uma elite exploradora por outra, mesmo sendo de uma outra raça. Não se queria uma simples mudança de turno nos opressores. Estamos hoje no limiar de uma decisão: quem faremos jogar no combate pelo desenvolvimento? Serão estes que nos vão representar nesse relvado chamado “a luta pelo progresso”? Os nossos novos ricos (que nem sabem explicar a proveniência dos seus dinheiros) já se tomam a si mesmos como suplentes, ansiosos pelo seu turno na pilhagem do país. 

São nacionais mas só na aparência. Porque estão prontos a serem moleques de outros, estrangeiros. Desde que lhes agitem com suficientes atractivos irão vendendo o pouco que nos resta. Alguns dos nossos endinheirados não se afastam muito dos miúdos que pedem para guardar carros. Os novos candidatos a poderosos pedem para ficar a guardar o país. A comunidade doadora pode ir às compras ou almoçar à vontade que eles ficam a tomar conta da nação. Os nossos ricos dão uma imagem infantil de quem somos. Parecem criancas que entraram numa loja de rebuçados. Derretem-se perante o fascínio de uns bens de ostentação. 

Servem-se do erário público como se fosse a sua panela pessoal. Envergonha-nos a sua arrogância, a sua falta de cultura, o seu desprezo pelo povo, a sua atitude elitista para com a pobreza. Como eu sonhava que Moçambique tivesse ricos de riqueza verdadeira e de proveniência limpa! Ricos que gostassem do seu povo e defendessem o seu país. Ricos que criassem riqueza. Que criassem emprego e desenvolvessem a economia. Que respeitassem as regras do jogo. Numa palavra, ricos que nos enriquecessem. Os índios norte-americanos que sobreviveram ao massacre da colonização operaram uma espécie de suicídio póstumo: entregaram-se à bebida até dissolverem a dignidade dos seus antepassados. No nosso caso, o dinheiro pode ser essa fatal bebida. Uma parte da nossa elite está pronta para reallzar esse suicídio histórico. Que se matem sozinhos. Não nos arrastem a nós e ao país inteiro nesse afundamento.

Mia Couto


Moçambique em 2003. Subtraindo-se alguns detalhes, podia ser Portugal em 2011.

Welcome Spring!!!

segunda-feira, 21 de março de 2011

sexta-feira, 18 de março de 2011

Bom fim-de-semana!



Little Venice, Londres, Março 2011
Autoria: Matryoshka

O paraíso é o que uma pessoa quiser!

O paraíso pode ter muitas definições, definições essas que variam consoante a circunstância. Hoje, o paraíso para mim, foi um supermercado português. A sério, até me senti meia estúpida tal era a excitação de ver tanta coisa boa e familiar à minha frente. Senti-me uma verdadeira Alice a entrar no país das maravilhas. Para onde quer que olhasse, tudo me apetecia!

Do meu cesto de compras constaram:

Bacalhau
Sugus
Tulicreme de avelã (ainda há dois dias tive um desejo incrível por Tulicreme de avelã)
Vinho alentejano
Chouriço
Tremoços
Cerelac
Grão em lata
Batata frita Pála-pála
Pastéis de bacalhau

A seguir, fui a um café português onde me deliciei com uma bica, um pastel de nata e um pastel de bacalhau (uma boa mistura, claro). Bem sei que isto não tem mesmo o menor interesse para quem todos os dias encontra isto em qualquer supermercado de 5ª categoria. Mas para quem, como eu, está a milhas (literalmente) de tanta coisa boa, foi maravilhoso. Como diriam por cá «This made my day»!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Confissões # 15

De vez em quando oiço uma música em repeat até ao ponto de me sentir envergonhada comigo própria.

It seems like...

I'm taking off! 

Fui a uma entrevista hoje e já me ligaram de volta a dizer que fui aceite. Bem, não é a última coca-cola no deserto mas é qualquer coisa. Se por um lado a questão financeira me preocupa bastante (e aqui gasta-se bem e sem dificuldade), por outro lado, isto de andar para aqui aos caídos sozinha, é uma seca! Assim, é um dois em um. Não é coisa para a vida mas ao menos posso ir procurando uma coisa melhor e mais bem paga sem ter a constante preocupação do dinheiro, right?


«Devagar se vai ao longe», já dizia o meu bisavô!

domingo, 13 de março de 2011

Caminho Recompensador


«Aquele que se tenha erguido acima do cesto das esmolas e não se tenha contentado em viver ociosamente das sobras de opiniões suplicadas, que pôs a funcionar os seus próprios pensamentos para encontrar e seguir a verdade, não deixará de sentir a satisfação do caçador; cada momento da sua busca recompensará os seus dissabores com algum prazer; e terá razões para pensar que o seu tempo não foi mal gasto, mesmo quando não se puder gabar de nenhuma aquisição especial.»

John Locke, in «Ensaio Sobre o Entendimento Humano»

sábado, 12 de março de 2011

E novidades?


Isto parece-me uma frase bem ao estilo de Lili Caneças*. Isabel Alçada no seu melhor.


*Para quem não se lembra, «Estar vivo é o contrário de estar morto».

A Revolta das Gerações

Hoje, mais triste do que nunca, vi o meu país protestar. Triste porque gostaria de ter contribuído, de me ter manifestado contra as recorrentes decisões políticas que nos deixam a todos à rasca, em benefício de meia dúzia de glutões. Triste porque precisamos de nos manifestar, precisamos de nos fazer ouvir urgentemente. Foi, no entanto, com agrado que percebi que este foi um protesto para além de uma geração. Ultrapassou diferenças políticas, sociais, religiosas. Em conjunto, muitos disseram «não» a uma situação que se prolonga há tempo demais. 

Deambulei como pude pela Avenida da Liberdade: vi as imagens um pouco por todo o lado e li os textos que revelam o tom da contestação. Entre as centenas de cartazes, dizia um «Revolução dos (es)cravos». Acertado, parece-me. E nos meios de comunicação estrangeiros, encontrei um texto num jornal russo, intitulado «A Revolta das Gerações». O artigo põem o dedo na ferida e contextualiza o protesto. Não termina, porém, sem referir que, apesar da contestação, certamente, nas próximas eleições os portugueses continuarão a votar nos mesmos... Vale a pena ler aqui.

Concordando-se ou não (tenho visto comentários em todos os sentidos), uma coisa é certa: o país está mesmo à rasca!



sexta-feira, 11 de março de 2011

Bom fim-de-semana!

Hampstead Heath Park, Londres, Março 2011
Autoria: Matryoshka

1 mês

Faz hoje um mês que cheguei a Londres. Têm sido mais os momentos «down» do que os «up». Bem sei que é normal que assim seja no início e já contava com isso. Muitas saudades, alguns passeios, pouco convívio e nenhum trabalho.  Resta-me esperar que o próximo mês traga mais notícias e, sobretudo, boas notícias.