segunda-feira, 11 de julho de 2011

O meu fado

Quando fazemos uma mudança drástica nas nossas vidas, como mudar de país, ponderamos os prós e os contras vezes sem conta. Não é nunca de ânimo leve (creio eu) que se decide virar tudo do avesso e começar de novo. E muitas das dúvidas que tinha antes de vir para Londres ainda me assombram. Não penso nisso a toda a hora mas de tempos a tempos (leia-se, pelo menos uma vez por semana), sou assaltada por algumas interrogações. E se habitualmente as tomo como parte do processo de adaptação, é geralmente em conversas banais que nos apercebemos do quão estranhas podem ser as nossas opções. 

Desde há muitos anos que pensava em vir para Londres. Por uma razão ou outra, por falta de coragem ou, simplesmente, porque a vida ia acontecendo e nunca parecia ser a altura certa, fui adiando a vinda. Mas acho que sempre soube que viria. Quando decidi finalmente arriscar, pesei uma série de coisas que já tinha e das quais iria abdicar para embarcar nesta mudança. E mesmo assim arrisquei. Penso algumas vezes nessas coisas: em Portugal vivia sozinha numa boa casa (apesar de não ser nas condições ideais); em Portugal tinha carro (apesar de não ser nas condições ideais); em Portugal tenho a maioria da minha família e amigos. Em Londres, divido um apartamento e o meu quarto é pouco maior que uma das casas-de-banho que tinha em Lisboa; em Londres ando de transportes, entre milhares de pessoas e sujeito-me aos horários do metro, autocarro, etc.; em Londres fiz alguns amigos mas não consigo evitar a saudade imensa e o vazio de não ter quem mais amo por perto.

Entretanto, a A., amiga de longa data veio a Londres por uns dias. Passámos o fim-de-semana juntas e não consigo esquecer o que senti no momento em que a vi. Falamos com muita frequência, seja via Skype ou por telefone, mas vê-la à minha frente foi uma lufada de ar fresco! Acho que nos revemos sempre nos outros e vê-la foi como ver-me fora desta rotina. No Domingo, em conversa banal, falávamos do que faríamos se ganhássemos o Euromilhões. E foi aqui que me surpreendi a mim própria. Nas minhas palavras:

«Se ganhasse o Euromilhões, comprava uma casa em Lisboa mas não me ia embora daqui.»

Ela, naturalmente, olhou-me com espanto. E eu espantei-me com o que disse. Que raio de coisa me prenderá a esta cidade? Tenho menos, muito menos do que tinha em Portugal. Estou longe de tudo o que é confortável, familiar e que adoro. Tenho muitos momentos de melancolia e saudade e outros tantos de solidão. Por que motivo insisto e sinto que, pelo menos para já (e sem data de regresso marcada), é aqui que vou ficar? Apenas duas explicações me ocorrem: ou adoro a sensação de desafio pessoal ou há qualquer coisa que tenho de fazer aqui e ainda não sei o que é. Se acredito em karma ou destino? Até certo ponto, mas quando de forma racional e lógica não encontro explicação para esta escolha, pondero se não será mesmo o destino a cumprir-se. Só o tempo o dirá. 

5 comentários:

enfermeiroUK disse...

Entendo o que dizes...quando ouvi falar português há umas semanas atrás senti uma lufada de ar fresco, um alivio...

Rómulo disse...

Olá!!Tenho acompanhado o teu blog já à uns tempos, desde que começou a surgir na minha cabeça a ideia de ir para Londres.E ao fim de alguns meses de reflexão, eis que finalmente me decidi...despedi-me do meu emprego,marquei viagem e a partir de Setembro aí estou eu!!!
basicamente revejo-me em tudo aquilo que escreveste, as dúvidas começam a surgir cada vez mais à medida que o tempo vai passando e se aproxima o grande momento...
Pode ser que me dê mal,pode ser até que nem goste, mas tb no meu caso há qq coisa inexplicável que me faz querer experimentar essa cidade!e olhando a tudo o que tenho lido (de ti e outros tugas por aí), tenho quase a certeza que vou gostar... e muito!!

Matryoshka disse...

Rómulo, obrigada pelo comentário! É de facto assustador. Mas vale a pena. Acho que não dá para explicar, só mesmo vivendo a experiência...

Parece que fizémos um percurso semelhante. Qualquer coisa que precisares, é só enviar um email (abonecarussa@gmail.com)!

Beijinhos aos dois :)

PB disse...

Que saudades amiga, que saudades! Mas sempre que falo contigo e sempre que leio o teu blog fico aliviada, pois sei que apesar de tudo...esse é o teu sítio...pelo menos por agora! ;)
Beijinhos

Rita disse...

Só temos de saber apreciar a viagem, embora ás vezes pareça não fazer sentido... sobretudo por estarmos longe de amigos e familia:)* enjoy London!