quinta-feira, 1 de maio de 2008

Jogos de Azar


Não há nada como uma paixão para tornar os dias mais emocionantes: desde noites em claro a uma perda de apetite, até às familiares borboletas na barriga, tudo nos assalta e avassala o coração. Inesperadamente o mundo é mais simpático e o que noutras alturas nos faz raiar os olhos de sangue, subitamente é tolerado com uma descontração que nos surpreende. Mas esse é também o mais frágil dos momentos. Ainda não há uma história e o futuro vive apenas na nossa cabeça. E é nesta incerteza que muitos embarcam nos jogos de azar.

Desde a minha primeira paixão, já lá vão 13 anos, sempre pautei as minhas acções pela honestidade. Inevitavelmente, no decorrer destes anos, falhei, errei, fui injusta e incorrecta com algumas pessoas. Mas nunca as manipulei. E aquilo a que assisto frequentemente é a elevação de uma forma de manipulação, a que vulgarmente se chama "joguinhos". Quem nunca, arrebatado por alguém, ouviu outro dizer "Não lhe ligues. Vais ver que em menos de nada está caidínho por ti!". Esta coisa do "dá e tira" na esperança de prender o outro, pode até trazer resultados. Aos 18 anos, face à inexperiência que se tem, acredito até que seja um recurso. Aos 28 é descabido! Quando preferimos* alguém, sabemos o que queremos. Sabemos a medida exacta do quanto queremos a outra pessoa. Conhecemos os caminhos que queremos percorrer e não pode por isso, haver espaço para a manipulação. De nada vale fingir que não estamos nem aí. Afinal até estamos! Se ele não esteve bem, se falhou, não posso ignorar essa falha. Se pelo contrário, se mostrou atencioso, não vou fingir que me dá igual, quando não dá!

Não digo que devamos revelar de imediato o que nos vai na alma, reagir desenfreadamente a cada palavra ou gesto. Não, o jogo acontece precisamente no momento em que nada está definido e portanto, tudo é possível. O jogo é a frase que se lança e que é muito mais do que o que é dito. É o olhar simultâneamente despudurado e timído. É o cruzar de mãos para que não se percam, quando nunca se perderiam... Jogar é arriscar na incerteza.

Este post, e a maioria dos seus comentários, reflecte bem o tipo de jogos que infelizmente se fazem por aí. Pela minha parte, não é a ausência que me prende, antes pelo contrário. Não é a ansiedade a que me submetem que me excita. Gostar de alguém é um estado de alma do qual não depende a angústia que me provocam.

A mais das vezes, dos jogos surgem mal entendidos. Enquanto um vai para a esquerda, outro segue pela direita e vão-se encontrando nas encruzilhadas...

Mais do que jogos de amor, estes são jogos de azar...


* Expressão magníficamente empregue aqui.

2 comentários:

MiSs Detective disse...

come what may come :)

Rui Mendes disse...

Muito bom post. Tudo que venha reforça-lo está a mais.