Depois de alguns dias em que a rotina foi outra, estou de regresso ao dia-a-dia. Sem as mesmas gargalhadas, jantares partilhados e noites de companhia. Sem a saudade permanente e com um bocadinho de Portugal aqui. Estão de volta os dias incertos, ansiosos. E todas as possibilidades estão em cima da mesa outra vez.
quarta-feira, 30 de março de 2011
Das despedidas
«Na hora da despedida, é quase sempre mais difícil ficar do que partir.»*
Quase sempre.
*in Equador, Miguel Sousa Tavares
sexta-feira, 25 de março de 2011
quinta-feira, 24 de março de 2011
Dramas de nacionalidade
Londres é uma cidade cheia de gente. Há pessoas de todo o lado e até agora são poucos os verdadeiros londoners que conheci. Pelas ruas, vou ouvindo falar português mas é sobretudo o português do Brasil. Ontem estive com várias pessoas que falavam português sendo que a única portuguesa era eu. Algumas constatações que me fizeram:
A. - Cê é portuguesa?
Eu - Sim, sou. De Lisboa.
A. - Ah, dá pra ver! Cê dá uns ares à Nelly Furtado!
Não sendo fã da luso-descendente, acho que é um bom elogio. A conversa que se seguiu foi a seguinte:
Eu - E é de patins?
R. - Dji quê?
Eu - Patins.
R. - Não entendi não.
Eu - Patins. Pa-tins!
R. - Ah, pátxins! «Pâtinss» ahahah. Seu sotaque é muito fofo!
O meu???
Hoje, uma senhora inglesa perguntou-me de onde sou. Respondi que sou de Portugal. Comentário:
- Eu diria que era italiana!
As minhas maçãs de rosto à Sophia Loren agradecem.
O comentário mais triste foi mesmo de um senhor já para o velhote que também quis saber de onde sou. Quando lhe disse, replicou com a seguinte pergunta:
- Em Portugal fala-se francês, não é?
Pois claro que sim! Francês, inglês, italiano, castelhano e tudo o quanto se queira aprender por lá. Também se aprende geografia e, por regra, sabemos mais ou menos que língua se fala em cada país!
quarta-feira, 23 de março de 2011
terça-feira, 22 de março de 2011
Pobres dos nossos ricos
Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro» dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele. A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos “ricos”. Aquilo que têm, não detêm. Pior, aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados.
Necessitariam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por os lançar a eles próprios na cadeia. Necessitariam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.
O maior sonho dos nossos novos-ricos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo, umas efémeras cintilâncias. Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas. O Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre chapas muito convexos e estradas muito côncavas. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade.
As casas de luxo dos nossos falsos ricos são menos para serem habitadas do que para serem vistas. Fizeram-se para os olhos de quem passa. Mas ao exibirem-se, assim, cheias de folhos e chibantices, acabam atraindo alheias cobiças. O fausto das residências chama grades, vedações electrificadas e guardas privados. Mas por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam o receio das invejas e dos feitiços que essas invejas convocam.
Coitados dos novos ricos. São como a cerveja tirada à pressão. São feitos num instante mas a maior parte é só espuma. O que resta de verdadeiro é mais o copo que o conteúdo. Podiam criar gado ou vegetais. Mas não. Em vez disso, os nossos endinheirados feitos sob pressão criam amantes. Mas as amantes (e/ou os amantes) têm um grave inconveniente: necessitam ser sustentados com dispendiosos mimos. O maior inconveniente é ainda a ausência de garantia do produto. A amante de um pode ser, amanhã, amante de outro. O coração do criador de amantes não tem sossego: quem traiu sabe que pode ser traído.
Os nossos endinheirados-às-pressas não se sentem bem na sua própria pele. Sonham em ser americanos, sul-africanos. Aspiram ser outros, distantes da sua origem, da sua condição. E lá estão eles imitando os outros, assimilando os tiques dos verdadeiros ricos de lugares verdadeiramente ricos. Mas os nossos candidatos a homens de negócios não são capazes de resolver o mais simples dos dilemas: podem comprar aparências, mas não podem comprar o respeito e o afecto dos outros. Esses outros que os vêem passear-se nos mal-explicados luxos. Esses outros que reconhecem neles uma tradução de uma mentira. A nossa elite endinheirada não é uma elite: é uma falsificação, uma imitação apressada.
A luta de libertação nacional guiou-se por um princípio moral: não se pretendia substituir uma elite exploradora por outra, mesmo sendo de uma outra raça. Não se queria uma simples mudança de turno nos opressores. Estamos hoje no limiar de uma decisão: quem faremos jogar no combate pelo desenvolvimento? Serão estes que nos vão representar nesse relvado chamado “a luta pelo progresso”? Os nossos novos ricos (que nem sabem explicar a proveniência dos seus dinheiros) já se tomam a si mesmos como suplentes, ansiosos pelo seu turno na pilhagem do país.
São nacionais mas só na aparência. Porque estão prontos a serem moleques de outros, estrangeiros. Desde que lhes agitem com suficientes atractivos irão vendendo o pouco que nos resta. Alguns dos nossos endinheirados não se afastam muito dos miúdos que pedem para guardar carros. Os novos candidatos a poderosos pedem para ficar a guardar o país. A comunidade doadora pode ir às compras ou almoçar à vontade que eles ficam a tomar conta da nação. Os nossos ricos dão uma imagem infantil de quem somos. Parecem criancas que entraram numa loja de rebuçados. Derretem-se perante o fascínio de uns bens de ostentação.
Servem-se do erário público como se fosse a sua panela pessoal. Envergonha-nos a sua arrogância, a sua falta de cultura, o seu desprezo pelo povo, a sua atitude elitista para com a pobreza. Como eu sonhava que Moçambique tivesse ricos de riqueza verdadeira e de proveniência limpa! Ricos que gostassem do seu povo e defendessem o seu país. Ricos que criassem riqueza. Que criassem emprego e desenvolvessem a economia. Que respeitassem as regras do jogo. Numa palavra, ricos que nos enriquecessem. Os índios norte-americanos que sobreviveram ao massacre da colonização operaram uma espécie de suicídio póstumo: entregaram-se à bebida até dissolverem a dignidade dos seus antepassados. No nosso caso, o dinheiro pode ser essa fatal bebida. Uma parte da nossa elite está pronta para reallzar esse suicídio histórico. Que se matem sozinhos. Não nos arrastem a nós e ao país inteiro nesse afundamento.
Mia Couto
Moçambique em 2003. Subtraindo-se alguns detalhes, podia ser Portugal em 2011.
segunda-feira, 21 de março de 2011
I write like...
I write like
I Write Like by Mémoires, journal software. Analyze your writing!
Infelizmente nunca li... Fica na lista das próximas leituras!
sexta-feira, 18 de março de 2011
O paraíso é o que uma pessoa quiser!
O paraíso pode ter muitas definições, definições essas que variam consoante a circunstância. Hoje, o paraíso para mim, foi um supermercado português. A sério, até me senti meia estúpida tal era a excitação de ver tanta coisa boa e familiar à minha frente. Senti-me uma verdadeira Alice a entrar no país das maravilhas. Para onde quer que olhasse, tudo me apetecia!
Do meu cesto de compras constaram:
Bacalhau
Sugus
Tulicreme de avelã (ainda há dois dias tive um desejo incrível por Tulicreme de avelã)
Vinho alentejano
Chouriço
Tremoços
Cerelac
Grão em lata
Batata frita Pála-pála
Pastéis de bacalhau
A seguir, fui a um café português onde me deliciei com uma bica, um pastel de nata e um pastel de bacalhau (uma boa mistura, claro). Bem sei que isto não tem mesmo o menor interesse para quem todos os dias encontra isto em qualquer supermercado de 5ª categoria. Mas para quem, como eu, está a milhas (literalmente) de tanta coisa boa, foi maravilhoso. Como diriam por cá «This made my day»!
quinta-feira, 17 de março de 2011
Confissões # 15
De vez em quando oiço uma música em repeat até ao ponto de me sentir envergonhada comigo própria.
It seems like...
I'm taking off!
Fui a uma entrevista hoje e já me ligaram de volta a dizer que fui aceite. Bem, não é a última coca-cola no deserto mas é qualquer coisa. Se por um lado a questão financeira me preocupa bastante (e aqui gasta-se bem e sem dificuldade), por outro lado, isto de andar para aqui aos caídos sozinha, é uma seca! Assim, é um dois em um. Não é coisa para a vida mas ao menos posso ir procurando uma coisa melhor e mais bem paga sem ter a constante preocupação do dinheiro, right?
«Devagar se vai ao longe», já dizia o meu bisavô!
segunda-feira, 14 de março de 2011
domingo, 13 de março de 2011
Caminho Recompensador
«Aquele que se tenha erguido acima do cesto das esmolas e não se tenha contentado em viver ociosamente das sobras de opiniões suplicadas, que pôs a funcionar os seus próprios pensamentos para encontrar e seguir a verdade, não deixará de sentir a satisfação do caçador; cada momento da sua busca recompensará os seus dissabores com algum prazer; e terá razões para pensar que o seu tempo não foi mal gasto, mesmo quando não se puder gabar de nenhuma aquisição especial.»
John Locke, in «Ensaio Sobre o Entendimento Humano»
sábado, 12 de março de 2011
E novidades?
Isto parece-me uma frase bem ao estilo de Lili Caneças*. Isabel Alçada no seu melhor.
*Para quem não se lembra, «Estar vivo é o contrário de estar morto».
A Revolta das Gerações
Hoje, mais triste do que nunca, vi o meu país protestar. Triste porque gostaria de ter contribuído, de me ter manifestado contra as recorrentes decisões políticas que nos deixam a todos à rasca, em benefício de meia dúzia de glutões. Triste porque precisamos de nos manifestar, precisamos de nos fazer ouvir urgentemente. Foi, no entanto, com agrado que percebi que este foi um protesto para além de uma geração. Ultrapassou diferenças políticas, sociais, religiosas. Em conjunto, muitos disseram «não» a uma situação que se prolonga há tempo demais.
Deambulei como pude pela Avenida da Liberdade: vi as imagens um pouco por todo o lado e li os textos que revelam o tom da contestação. Entre as centenas de cartazes, dizia um «Revolução dos (es)cravos». Acertado, parece-me. E nos meios de comunicação estrangeiros, encontrei um texto num jornal russo, intitulado «A Revolta das Gerações». O artigo põem o dedo na ferida e contextualiza o protesto. Não termina, porém, sem referir que, apesar da contestação, certamente, nas próximas eleições os portugueses continuarão a votar nos mesmos... Vale a pena ler aqui.
Concordando-se ou não (tenho visto comentários em todos os sentidos), uma coisa é certa: o país está mesmo à rasca!
sexta-feira, 11 de março de 2011
1 mês
Faz hoje um mês que cheguei a Londres. Têm sido mais os momentos «down» do que os «up». Bem sei que é normal que assim seja no início e já contava com isso. Muitas saudades, alguns passeios, pouco convívio e nenhum trabalho. Resta-me esperar que o próximo mês traga mais notícias e, sobretudo, boas notícias.
quarta-feira, 9 de março de 2011
Giro, giro!
Este menino está no meu top 10 de giro. Não só porque é giro mas porque tem uma voz adorável (e nem precisava de cantar)!
Sebastian Pigott
Embora seja canadiano, ao que parece, cresceu em Portugal. Resta-me perguntar: Onde andaste tu estes anos todos que eu não te vi?
segunda-feira, 7 de março de 2011
Quase ganhei o dia!
Ou talvez tenha sido um bocadinho demais. Estava eu na caixa do supermercado, há pouco, e entre as minhas compras, figurava uma garrafa de vinho (português, por sinal). Pergunta-me a senhora da caixa:
- Are you over 18?
Tenho 30. Já sei que pareço mais nova, só não pensei que parecesse tão mais nova! Se por aqui se comemorasse o Carnaval, pensaria que era certamente uma piada...
domingo, 6 de março de 2011
Hoje passei o dia...
... na Estação das Chuvas.
Adoro José Eduardo Agualusa. É um contador de estórias maravilhoso. Casa, como ninguém, o real com a ficção, a brutalidade da realidade com o imaginário. O uso que dá à língua, combinando elegantemente cada palavra com o espírito das gentes, transformam cada narrativa numa viagem por tempos, cheiros, cores e lugares nos quais apetece ficar mais um bocadinho. Em cada relato, visitamos a História, feita de tantas outras que parecem perdidas e são recuperadas a cada capítulo, contadas pelos próprios ou por outros, tanto faz. Mais do que a fidelidade aos acontecimentos, encontramos em cada página uma verdade que é maior, pessoal e intransmissível: a verdade de cada um. É das várias estórias entrelaçadas que nasce aquela que nos é dada a conhecer. Aqui, o todo não é a soma das partes e cada parte vale por si só.
Passar por esta Estação das Chuvas (e por outras tantas mais) é mais do que um bom entretenimento. É viajar até ao calor do Sul e ficar por lá enquanto houver páginas para contar... Um conchego para a alma.
sábado, 5 de março de 2011
Um pequeno prazer
Ontem, após 3 semanas sem ter o privilégio de fazê-lo, finalmente tomei um café (bom), sentada numa esplanada e de cigarro na mão a acompanhar. Para além das proibições ao consumo de tabaco (legal, devo acrescentar), sentar numa esplanada para tomar um café pode levar-nos quase tanto como uma caixa inteira de cápsulas Nespresso. Por £1,30 usufruí desse pequeno prazer. Soube mesmo muito bem!
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